Filha,
Eu já tinha avisado, mas você nunca tinha visto. Pegou-me no
flagra esses dias. Eu estava com os olhos marejados. Sim, meu amor, seu pai
também chora. Mas só em último caso.
Isso me faz pensar, essa coisa de segurar o choro é bobagem,
sabia? Vocês, crianças, é que são mais evoluídas e choram quando precisam
soltar um sentimento. Nós, não. Ficamos segurando nossa mágoa, nossa dor e,
quando caímos em pranto, o fazemos escondidos. Feito você quando rabisca a
parede ou abre o armário do banheiro. A diferença é que deveria ser permitido a
todos chorarem à vontade.
Confesso, fiquei preocupado. Mas você não fez nada, nem
expressão de assustada, nem cara de quem ia choramingar junto. Você
simplesmente sorriu. Com muita graça, como se entendesse que eu precisava de um
ânimo. Tão pequeneninha, tão
generosa. Tão nova, tão sábia.
Então a gente combina assim: quando você me vir triste, dê
outro sorriso. Ele é capaz de espantar todas as mazelas da vida. E me fazer
eternamente feliz.
Eu amo você.