terça-feira, 19 de abril de 2011

Aromas.


Ontem, ao voltar para casa, coloquei a cabeça para fora da van que me levava até o metrô. Queria apenas sentir o vento forte no rosto (por vezes uma simples brisa pode tornar um dia difícil mais ameno), porém ganhei mais uma surpresa: o cheiro de dama da noite que saía de uma casa.

Luiza, os aromas são importantes, sabia? Capazes de nos transportar para outro lugar, outra época, eles mudam nosso humor. O das flores que já falei anteriormente, por exemplo, me fizeram lembrar dos finais de tarde das férias escolares. Era um odor típico da pracinha que tem em frente à casa dos seus avós, eu brincava até anoitecer e estas plantinhas me ofereciam seu melhor. Eu era muito pequeno para perceber o valor disso, mas hoje eu me recordo com saudade.

Tem outros cheiros que me agradam - de comida da minha mãe, de mar, de café fresquinho. São tantos que poderia ficar escrevendo páginas e mais páginas, e não foi por isso que comecei esta missiva. E sim para dizer que, em breve, vou inaugurar o meu novo aroma predileto: o de filha que acabou de nascer.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Nosso lugar.


Luiza, quando você chegar vai perceber que o mundo é lindo. Não, não me refiro ao planeta que todos conhecem, estou falando do mundo que você, sua mãe e eu vamos construir juntos.

Nele, minha filha, você vai encontrar árvores cor de rosa, céu lilás e pés de pirulito. Flores vão nascer do asfalto e passarinhos estarão sempre por perto, já que conseguiremos voar.

Em nosso mundo vai ter livros do Ziraldo, desenhos animados e historinhas que inventei com tanto zelo que se tornarão realidade. E um montão de corujas para velar nosso sono mais tranqüilo.

Principalmente, minha pequena, você vai ver o amor que sinto por você. Ele é tão grande, tão presente, que você poderá tocá-lo.

terça-feira, 12 de abril de 2011

O que eu queria ser.


Filha, quando a gente é criança sonha muito. E no meio de meus devaneios infantis eu desejei muita coisa.

Quis ser astronauta e visitar o espaço (nos anos 80 achávamos que em 2000 estaríamos morando na lua). Quis ser também cientista maluco e inventar uma máquina do tempo. Rockstar sem camisa, cabeludo e tocando Heavy Metal foi meu sonho mais constante.

E já quis ser bombeiro, policial, centroavante da seleção. Até pensei em ganhar a vida como psicólogo, jornalista, escritor – profissões estas bem mais convencionais.

Virei publicitário por genética e vocação, músico nas horas vagas por ser a atividade do meu coração e pretenso poeta quando a inspiração vem.

Hoje não sei ao certo se todas as escolhas foram corretas. Mas guardo comigo, no lugar mais precioso do peito, uma convicção que descobri há pouco: o que eu na verdade sempre quis foi ser seu pai.

Estamos esperando sua chegada, meu amor.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

As joias que sua avó deixou para você.

Quando criança, eu me orgulhava muito de uma coleção de pedras. Não eram diamantes, rubis, esmeraldas e sim seixos encontrados na pracinha em frente à casa em que eu morava.

Apesar disso eu tinha a certeza de que era linda minha coleção. Quem mais me incentivou foi minha mãe. Lembro-me bem, eu brincando no tanque de areia e ela me chamava: “filho, vem ver a pedra chegada que eu encontrei”. Então levávamos para o local onde meu tesouro ficava, um cantinho do jardim da nossa residência.

Foi nesse tempo, Luiza, que aprendi a ver coisas com poesia. Sua vó Zezé quem me ensinou (provavelmente ela nem se dá conta disso). Porque só olhos líricos são capazes de enxergar graça nas pedras jogadas por um terreno qualquer.

Quero muito fazer o mesmo por você, minha filha. Tenho treinado bastante meu olhar para que, quando você chegar, eu consiga encher sua vida de poemas. E hoje, justamente exercitando meu lado mais sensível, lembrei-me desta história e pensei em colecionar pedrinhas com você. Elas podem não ser as mais bonitas, nem as mais caras. Mas são as mais preciosas que podemos ter.